Chamado de "fenômeno ocupacional" pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o burnout vem sendo estudado desde de 1970, inicialmente por Freudenberger (1974) e Maslach (1996), nos Estados Unidos. Descrito como resultante de estresse crônico induzido pelo trabalho, que não foi administrado com sucesso, o burnout é caracterizado por três dimensões:
1) sensação de esgotamento ou exaustão emocional;
2) sentimentos de negativismo ou cinismo relacionados ao trabalho; e
3) redução da eficácia profissional.
Atualmente, para efeitos de compreensão e estudo do fenômeno, são descritos 5 estágios do burnout * (Veninga, & Spradley, 1981), que podem acontecer cronologicamente, ou não.
Fase 1: A Lua de Mel
Quando iniciamos uma nova atividade, projeto, novo cargo, é comum começarmos experimentando uma alta satisfação no trabalho, comprometimento, energia e criatividade. É muito comum o burnout já dar sinais nesse momento, e entre a satisfação e os sentimentos de produtividade, é importante reconhecer sintomas como:
· Aceitação de tarefas indiscriminadamente;
· Otimismo exacerbado, mesmo quando a situação exigiria certa cautela ou apreensão ;
O burnout é especialmente presente em pessoas que são apaixonadas pelo que fazem, com alto senso de responsabilidade e identificação com o trabalho. Por isso, para se prevenir do burnout, logo nessa fase, compreender os próprios limites é o primeiro passo. O segundo, é respeitar esse limite.
Fase 2: Início do stress
Nesse estágio começamos a reconhecer que alguns dias são mais difíceis que outros, sendo que é comum ter dias muito produtivos e com alto senso de satisfação e dias onde começamos a reconhecer sintomas do stress, tais como:
· Oscilação de humor;
· Receio na tomada de decisão;
· Diminuição com a satisfação no trabalho;
· Irritabilidade;
· Cansaço, fadiga;
· Perda de produtividade;
· Mudança nos hábitos de sono, apetite;
· Dificuldade para focar;
Nessa fase, fique também atento com a observação de pessoas próximas a você e a quem você confia, pois é comum recebermos apontamentos tais como “você parece cansado”, “você está muito irritado”, “está tudo bem com você?”.
Fase 3: Stress crônico
Nessa fase se observa um aumento na intensidade dos sintomas da fase anterior, bem como uma diminuição na motivação, no senso de propósito e realização. O stress passa a aparecer mais frequentemente e novos sintomas podem ser notados:
· Perda de prazos e entregas;
· Apatia;
· Agressividade;
· Atitude cínica;
· Exaustão, cansaço exacerbado;
· Sentir-se ameaçado, pressionado;
· Aumento do uso de cafeína, álcool e drogas;
· Procrastinação no trabalho e em casa;
Fase 4: Burnout
Essa é a fase do burnout propriamente dito. O sentimento de esgotamento e stress são tamanhos que é difícil dar conta. Os sintomas físicos e emocionais se tornam muito frequentes. É possível perceber nessa fase características como:
· Vontade de desistir do emprego e largar tudo;
· Alta negligência com as necessidades pessoais, como alimentação e descanso;
· Aumento de uso de atividades de escapismo e da vida social;
· Aumento de escapismo mental: dissociação do presente;
· Sentimento de vazio interno;
· Sentimento de pessimismo e cinismo exacerbado;
· Obsessão com problemas ligados ao trabalho;
· Aumento de sintomas físicos, como dores no estômago, desregulação intestinal, bruxismo;
Fase 5: Burnout crônico
Nesse estágio os sintomas do stress e do burnout estão tão presentes que se tornam crônicos e passam a ser o nosso “modo de ser no mundo”. A experiência da pessoa já não é mais de estresse ocasional, mas de um estado de estresse altamente frequente e incapacitante, sendo que quadros mais severos são encontrados como depressão crônica, cansaço mental crônico, cansaço físico crônico.
Alguns caminhos possíveis...
Cada estágio do burnout traz seus desafios e pode imprimir muito sofrimento no ser humano, impactando não só o indivíduo, mas também seus familiares, vida social e a vida laboral.
Por isso, contar com profissionais da saúde como psicólogos, terapeuta e psiquiatras, sobretudo nas fases 3 a 5, é muito importante. Com apoio profissional é possível reconhecer o fenômeno com mais facilidade, para assim compreender os sintomas e introduzir estratégias de enfretamento da questão.
Já nas fases mais severas do burnout é necessário um olhar mais cauteloso, cuidadoso e frequentemente multidisciplinar para que a pessoa possa se autorregular e encontrar sua forma mais saudável de ser.
No enfrentamento do burnout, é decisivo buscarmos o de resgate do contato conosco, aumentando o nosso autoconhecimento, nossa propriocepção, nosso repertório pessoal, bem como os recursos externos.
Sobretudo em nosso momento presente, é crucial reconhecer nossos próprios limites frente uma sociedade que despreza a individualidade e a complexidade humana em detrimento da supercompetitividade mercadológica. Haja vista os níveis de stress, ansiedade e burnout que evoluem para patamares cada vezes mais alarmantes, cuidarmos de nós é uma decisão para o agora.
(*) Adaptação de Veninga, R. L., & Spradley, J. P. (1981), https://www.winona.edu/stress/bntstages.htm e https://www.thisiscalmer.com/blog/5-stages-of-burnout recuperados em 25 de março de 2020.
Referências
Veninga, R. L., & Spradley, J. P. (1981). The work/stress connection: how to cope with job burnout. Boston, Mass.: Little, Brown.
Freudenberger, H. J. (1974). Staff Burnout. Journal of Social Issues, 30 (1), 159-165.
Maslach, C., Jackson, S.E. & Leiter, M.P. (1996). Maslach Burnout Inventory. Manual, 3rd edn. Palo Alto, CA: Consulting Psychologists Press.
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